
Recuerdo nostálgico de um dia tranquilo, em que ficar em casa era uma deliciosa opção. Eu tinha acabado de sair do último emprego e me entregava ao conforto do home office com direito a pausa para o café à tardinha, bolo no forno e família por perto. Muito em breve as tardes tranquilas seriam substituídas por dias e dias sem mal ver o sol, prazos apertados, acúmulo de freelas em certas épocas e correr atrás de clientes em tempos de vacas magras. Mas ainda assim, ficar sem sair de casa por longos períodos passou a ser meu estilo de vida ideal. O mais próximo possível do sonho escapista de voltar para o campo.
Hoje não se chama mais estilo de vida, e sim isolamento social, e é extremamente necessário. Ficar em casa passa a ser a única coisa correta a fazer. As notícias de uma crise mundial sem precedentes se acumulam e se impõem. Falha a concentração para trabalhar em projetos ou ler qualquer coisa que não seja notícias. Mesmo acostumada, não é a mesma coisa estar em casa sabendo que lá fora uma pandemia provoca o caos. Que milhares de pessoas estão seriamente ameaçadas. Que o sistema de saúde opera no limite. Que centenas de instituições podem estar prestes a desmontar. Que o sistema econômico, já frágil e desigual, fica por um fio. E que não tem muita coisa que eu possa fazer em relação a isso, visto que, ainda que privilegiada em uma série de pontos, estou longe de ter qualquer poder de decisão. Que a lista de coisas que a gente pode fazer para ajudar uns aos outros parece bastante limitada – talvez a gente tenha que ser criativo e encontrar outros meios.
Que gosto amargo tem, hoje, ficar em casa.
Mas não importa:
#FiqueemCasa
#FicaEmCasa
#FicaentuPutaCasa
#FicaEmCasaCaralho
#stayhome
#isolamentosocialvoluntário